4.12. Episódio de ensino 20 – Encontro 8#
“Como vocês, enquanto futuros professores encontrariam maneiras de trabalhar contra as opressões em sala de aula?”
Professora: Mas vamos lá/quais são as questões ((falando do roteiro de discussão)) /uma questão é/eu acho/como vocês (+) ((procurando os papéis. Dúvida em relação a qual questão pediu pra responder. Aluna empresta uma cópia e professora Lê a pergunta sobre como os futuros professores encontrariam maneiras de trabalhar contra as opressões em sala de aula)) /alguém pensou em respostas sobre isso? /ninguém? /porque vocês não fazem os deveres de casa? /vou começar dar nota pra tudo.
Estudante A: Eu[…] /como eu falei no início/eu não respondi escrevendo aqui/mas foi um debate de eu e eu mesma ((risos)) /com questionamentos.
Professora: Então sobre esse debate de você com você mesma/mostre pra gente.
Estudante A: É/tem várias perspectivas de […] /eu quando era aluna lá no ensino fundamental e médio/quando você venta essas questões/é/essas questões do racismo/do machismo/da homofobia/e aí você faz uma retrospectiva de você quanto aluno/e aí você quanto futuro professor/pra lidar com essas situações/e assim/é algo muito/muito delicado/porque assim/muitos professores acabam sendo coniventes com o preconceito/muitas vezes/é/situações mesmo que eu já presenciei/um aluno coloca um apelido no outro/e aí o outro vai e fala pro professor/ó professor fulano de tal tá me chamando assim assim assim/e o professor em vez de se posicionar e tomar uma atitude pra/descontruir aquilo/ele dá risada/ou então é aquilo/ó não fale isso não do seu colega não/só que dando risada/mostrando pro outro que tipo assim/ele de certa forma tá sendo conivente (+) e aí eu pensei assim/uma pergunta/eu como futura professora o que eu deveria fazer em situações como essa/e aí vem aquelas questões da/da roda de conversa/da interação com os alunos/de mostrar que não deve ter preconceito/que é todo mundo igual/só que assim/não adianta separar um dia da minha aula/eu enquanto professora em sala de aula falar com os alunos/ó não pode isso/não pode aquilo/ou trazer uma pessoa pra palestrar/e isso não passar desse momento/eu acho que/eu coloquei aqui como algo constante/não adianta ser feito só uma vez/como os protestos mesmo que são mais focados no dia da consciência negra/existe vários projetos pra o dia da consciência negra/mas e o resto dos dias/e o resto do ano? /o que pode ser feito? /porque o preconceito não é só/não deve ser só lembrado naquele dia específico e sim (+) todo o resto do ano/e aí o professor fica naquela/ah mas eu não tenho tempo pra isso/eu tenho que dá o assunto/eu tenho que passar avaliação/eu tenho que corrigir prova/eu não tenho tempo para tá abordando isso em sala de aula/aí eu penso/eu como futura professora será que eu irei entrar nessa vibe do ah eu não tenho tempo/eu tenho que dá meu assunto/eu tenho que dá meu conteúdo/ou eu tentaria propor coisas? /só que assim/eu pensei muito nessa coisa/de propor isso uma vez e deixar por isso mesmo/e pensar assim/ah não/eu fiz minha parte/eu tentei/mas […] /tem que ser algo constante e que envolve não só os alunos mas também todo o corpo docente que tá ali presente.
Professora: Como poderíamos tornar […]
Estudante B: Pró/posso falar? ((professora responde que sim)) é/eu respondi essa questão/só que tá no Word/mas pelo que a estudante A falou/eu fiz um projeto no colégio que eu trabalhei/é/eu fiz uma roda de conversa no novembro negro com os alunos do EJA/só que falando sobre o racismo/inclusive depois de uma aula da senhora/que eu peguei uma matéria sua/que a senhora trouxe imagens de propagandas racistas/levei essas imagens pra eles para eles poderem olhar e entenderem o que era o racismo né/porque pra eles não existia/tipo/eles falavam do racismo como se fosse/coisa pra outra pessoa não pra eles/porque eles não se viam como negros/teoricamente falando/se viam como negros mas não numa posição de que estavam sofrendo opressão/e aí ele citou o opressor/eles falaram dos relatos deles lá/que sofreram racismo nã nã nã/e aí no outro dia eu levei/é/poemas de Conceição Evaristo/que ela é maravilhosa/e eu desenhei/coloquei no quadro/eles escreveram no caderno/e eu pedi pra eles interpretarem com as palavras deles o que eles estavam entendendo/inclusive acho que foi até/((inaudível)) /e aí depois disso eu fiz com que eles apresentassem esse poema no novembro negro do colégio/e aí eles declamaram o poema/alguns né/que não foram todos/e/eu acho que foi muito importante porque eles conseguiram assim/entender/é/ o que era realmente o racismo/se realmente isso acontecia com eles/tipo/ver o lugar de opressor e oprimido realmente/e eles gostaram bastante porque(+)lá no colégio não tinha esse momento de você sentar e conversar ou falar sobre você mesmo/sempre era o professor que chegava no quadro/copiava e você escrevia e acabou/tipo/não tinha esse momento/tanto que eu acho que eu era uma das únicas professoras que eles iam procurar pra conversar e eu ficava chocante inclusive com esse colégio/misericórdia/e eles me procuravam pra conversar porque eles se sentiam assim/abertos e seguros pra isso/então foi bem legal.
Professora: Mais?
Estudante C: É/na minha escola também tinha outra estratégia/que o pessoal usava/tinha o novembro negro/tinha também (+) simpósio de gênero e sexualidade que meio que/não sei se continuou/mas/teve a primeira edição/segunda edição/sempre tinha anualmente/e apresentava as coisas assim/de uma maneira bem transdisciplinar/vários professoras das matérias/é/não biologia se não me engano/vários professores de matérias diferentes tratavam os assuntos na aula/é/durante esse período e até em outros períodos também/é/enfim/apresentavam […] /acho que eu como professora/talvez assim/acho que a mídia é uma das representações que a gente tem mais fortes assim/é/sobre essas questões/e a gente apontar algumas coisas que estão acontecendo e os alunos vão saber identificar porque eles também acompanham/a maioria/no caso/é/sei lá/eu acho que é bem/não sei como entraria dentro de um (+) do currículo conteudista de biologia.
Professora: Ah/era isso que eu queria conversar com vocês/então veja que aqui tem o seguinte/a ideia de que a estudante A falou/ah como se fosse/não tenho tempo/tenho que dá o assunto/né/você colocou olha/teve uma perspectiva assim lá/um trabalho interdisciplinar/com várias áreas mas acho que não a biologia/então o que eu quero conversar com vocês é isso/é possível fazer uma coisa constante/não pontual/de maneira a dar o assunto/é possível os professores de biologia se entregarem a uma proposta dessa natureza?
Estudante D: Assim/a partir do (+) conteúdo dessa questão assim das disciplinas/como a senhora abordou e eu também questionei/é/enquanto né/professora/que dá aqui a pouco vai tá dando aula/já tive essa oportunidade/de pensar realmente até/não só nessa disciplina mas em outras/disciplinas que abordem essa questão/da gente quando for explicar certas qualidades/essas questões dos órgãos e tal/de como eu posso interligar/de como eu posso trazer essa questão do racismo e de tudo mais/ como é que eu vou poder interligar e levar essa reflexão para os meus alunos/claro/cheio de dedos/com medo/com todo receio de como é que eu vou gerar isso nos meus alunos/até porque assim/quando/é/você é mais novo e tal/quando é mais nova/geralmente o corpo docente quando você chega na escola é mais velho/geralmente/ainda mais nessas questões de estágio e tal/é/esses alunos realmente eles trazem relatos pra nós que (+) as vezes nessa questão assim/por exemplo/não se tratar só com ele/porque geralmente com o colega que faz/mas vamos lá/trazer isso aqui pra sala/eu acho que assim/a gente não/eu não vou chegar aqui hoje e não vou transformar ninguém/mas eu como professora posso levar uma reflexão/ que as vezes aquela reflexão/muitas vezes saindo até de conteúdo/né/a gente transforma/transforma mais aquele individuo do que trazendo um conteúdo/porém essa questão da biologia/eu acho que a gente tem que fazer o que/na aula/tipo/pegar minha aula/meu plano de aula/e eu vou interligar com as questões que acontecem/e aí eu pensei/tipo/geralmente quando a gente tá aqui estudando/eu não me lembro de nas nossas disciplinas a gente ter abordado nada/ que é importante/ainda mais numa turma de licenciatura/a não ser a senhora de trazer essa questão de como a gente pode se portar/como a gente pode levar no nosso conteúdo/é/essas questões/é/que sempre existiram mas que tão tendo mais visibilidade agora/como é que a gente pode levar/o que que a gente pode gerar nesses alunos/e assim/eu acho ainda/bato na tecla do medo e do receio de como a sociedade vai (+) é/absorver isso/porque assim/em escolas que você leva camisinha pra os alunos/pra você mostrar e já tem aquele tabu todo/imagine como é pra você chegar/como eu falei pra senhora/como é que a gente vai abordar/porque tem toda uma questão/porque assim/como a gente vê/infelizmente a gente vive numa sociedade que a gente tem medo de tudo/e aí a gente chega lá e tem um pai super machista/e aí você traz isso/o pai vai todo dia querer tá lá pra matar todo mundo ((risos)) /entendeu/e tipo assim/essa questão da escola/como é que a escola vai absorver? /eu sou professora de biologia/trago isso/mas ali tem outra turma que não/e aí gera aquela conversa toda/eu acho isso complicado.
((Professora finaliza a aula expondo seu argumento de que não é necessário sair do assunto pra conseguir essas coisas. Traz exemplos de conteúdos de biologia que podem ser integrados a abordagens antiopressivas – Anemia falciforme, por exemplo)).