4.3. Episódio de ensino 2 - Encontro 2#
“O que temos em comum entre raça e gênero no pensamento de Darwin?” (professora)
“A capacidade intelectual!”
1.Professora:O que que temos em comum nestes dois textos aí/vejam que vocês rapidamente pularam de uma discussão de raça para a de gênero. O que que tem em comum que fizeram vocês fazerem isso aí? ((questionamento proveniente de discussão prévia sobre os capítulos selecionados do “Descendência do homem e seleção sexual” de Charles Darwin,1871))
2.Estudante A: a capacidade intelectual ele coloca bastante/ “fenotipológicos” ((quis dizer fenotípicos – correção feita por outros estudantes)) e capacidade intelectual.
3.Estudante B: Isso também puxando pra ele/porque ele como ser mais evoluído/ ele analisa as outras pessoas como ser menos evoluído/as culturas? A cultura dele é mais evoluída/é a que chega um pouquinho mais perto do que a que tá mais inferior na visão dele/então aquele povo que chega um pouco mais perto da dele é mais evoluído do que a (+) teoricamente/mais inferior porque não precisa[…]((inaudível)) ele é mais evoluído que a mulher por que ele é o homem/então[…] ((estudantes falam ao mesmo tempo)).
4.Estudante A: Interessante também o contexto histórico né/que tá se colocando.
5.Professora:Sim, qual é?
6.Estudante A: O processo de colonização/a Europa passando por um processo de/é/de expandir né seu império/fazendo contato com outros povos/aí eles como uma forma de sociabilidade/de existência lá/já tinha o elemento do patriarcado/aí quando se depara com essas novas sociedades/aí vem aquela visão né de simplesmente (+) então/olha/ a gente tem isso aqui desenvolvido/olha pra aquilo e não acha que é uma forma de desenvolvimento/não acha que é uma forma de uma sociedade que esteja nos parâmetros do que eles tem de conceito sabe/então/é/eu acho que vem muito também desse elemento/né/desse processo de se enxergar enquanto alguns conceitos que se desenvolveu naquela sociedade e/é/ a partir de si querer colocar o outro né/sendo que aquelas formas de sociabilidade são tão evoluídas dentro daquele contexto histórico/tão ricas quanto/né.
7.Professora:“A partir de si enxergar o outro” ((professora parafraseia no quadro a fala do estudante A. Demonstra dúvida ao escrever a palavra ‘enxergar’/estudantes ajudam)). Acho que aqui temos uma coisa muito importante/né/porque é uma construção/né/da identidade de si/talvez não só de si/né/mas esse si também é um nós/né/possivelmente/e/a partir disso eu enxergo/talvez julgo né/caracterizo/descrevo/o outro. Isso é um processo que no geral todo mundo faz né/um processo que/de um modo geral/todo mundo ou todo grupo/pessoas/talvez seja um processo normal de construção de identidade né ((estudantes concordam coma a cabeça – estudante A verbaliza “sim”)). Agora/tem processos distintos de fazer isso/né/ aí é você se situar nesse contexto de fazer isso com certa perspectiva/que contexto era esse? ((estudante responde: um contexto histórico))/Um contexto histórico. Qual era o contexto histórico? Um colonizador fazendo isso em relação aos grupos que você tá querendo colonizar/então você tá fazendo isso num contexto de imperialismo europeu/né/ e de colonização desses outros povos. Nesse processo aqui/de a partir de si enxergar o outro/né/vocês trouxeram uma questão que diz assim/olha/é(+) eu vejo na cultura um parâmetro/de desenvolvimento/eu me vejo como um parâmetro daquele que é evoluído/e aí/a partir daí/eu descrevo esse outro/né/então há aí apenas a distinção de diferentes? ((estudantes respondem que não sabem)) eu vejo esse outro de que modo? /como diferente? ((estudantes respondem que sim)) /sim/ao vê-lo como diferente/tem algum outro tipo de atribuição de valor além de ser diferente? ((estudantes respondem juntos: ‘inferior’)) /então há uma hierarquização né /certo/então eu atribuo a esse outro não só o estatuto de diferente/como o estatuto de (+) inferior/certo/essa inferioridade é descrita em que termos? /((incompreensível))
8.Estudante A: De capacidade intelectual ((professora concorda e escreve no quadro)) / de capacidade de/é/as vezes até colocando elementos/de personalidade/de sentimento/como se fosse uma característica biológica assim né/biologizando totalmente assim/o povo.
9.Professora:Então/há uma naturalização de comportamentos morais/né/é (+) de hábitos/de costumes/é/que mais? /ah até que questões emocionais né/de como lida com as emoções/é/ e/ há aí/nessa naturalização tem um elemento que é muito comum entre as duas discussões que vocês estavam fazendo aqui/vocês vejam que vocês transitaram rapidamente da diferença/ entre as raças para as diferenças entre homem e mulher/qual é um desses elementos que tá muito importante aí/ nessa estrutura argumentativa dessas diferenças entre os grupos raciais e as diferenças entre homem e mulher nesses dois capítulos?
10.Estudante B: De que o homem branco/europeu/ se sobrepõe em relação as mulheres e as pessoas negras/ou de outras raças/que não seja branca.
11.Professora:Certo/então tem uma hierarquização marcada aí com gênero e raça/e/que elemento é isso que eu tenho aí? /então/capacidade intelectual/e essa capacidade intelectual é marginalizada por quê? Um dos dados que ele mobiliza ((estudante A responde: ‘tamanho do crânio’)) /uma coisa muito comum é a discussão sobre o tamanho do crânio/o volume do cérebro/o volume da caixa craniana/tá/formato de rosto/não sei se vocês perceberam mais isso também apareceu/né/um rosto que é mais longo/que é mais achatado ((professora comenta sobre alguns termos que não se lembra ou que tem palavras mais complicadas)). Beleza/que mais? /aí vocês disseram que ele entra em contradição/que contradições são essas/onde elas aparecem[…]
12.Estudante A: Eu não li essa parte/eu só li o texto de gênero/então eu não vi o local da contradição/mas eu imagino assim que por exemplo/é/Darwin estava tentando entender esse processo de/espécie/de raça/de como a vida ela se diversifica/assim/ de um modo geral/é/e aí dentro desse processo existe as limitações enquanto sujeito do seu tempo né/como homem/branco/cristão/ dentro do contexto colonizador/então eu acho que/é/são os fatores que entram em contradição/mesmo ele se propondo a não ser/ como os colegas falaram/a ter um processo mais aberto/eu acho que/essa é a contradição/assim/que a gente pode tentar enxergar dentro desse processo. Mais uma coisa que eu percebi de Darwin é que há uma falha/principalmente da biologia em tentar olhar o humano/ sem/é/ perceber características humanas/tentar biologizar/e não entender a cultura/não entender a sociedade/não entender a história daquele povo/e aí são análises falhas pra mim/incompletas/por que não tá analisando a humanidade/humanidade não é/ só/ elemento/dado científico do corpo/ou de enfim/é/são elementos além né.
13.Professora:O que vocês acham que o estudante A falou? Vocês compartilham dessa perspectiva? Acham que tá pertinente a Darwin? Compartilham dessa perspectiva de que o humano tem que ser analisado para além/ do dito natural? talvez/é isso? / do dito biológico/o que seria esse biológico afinal?
14.Estudante C: Muita gente fundamenta as suas opiniões racistas baseadas na biologia/né/não só racista/mas de outros preconceitos (+) tem gente até que não acredita na biologia ((risos do estudante)).
15.Professora:“Tem gente até que não acredita na biologia” ((citando a última fala do estudante))/isso é muito interessante/aliás/eu gostei dessa fala/porque/é uma das que mais caracteriza hoje/as pessoas dizem que não acreditar na ciência pra umas coisas/e acreditam na ciência para outras coisas/uma maneira bastante comum/pessoas que dizem que a Terra é plana/dizem/é/fazem algumas afirmações sobre/por exemplo/a genética diz que não existe raça/ou/todo brasileiro tem um pouco de europeu/mas enfim/vamos lá então.
((professora continua iniciando outra questão do roteiro de discussão))